sexta-feira, 18 de abril de 2014

Tanto frenesim para uma celebração (cada vez mais adiada)

     Falta uma semana para celebrar os 40 anos do 25 de abril e são cada vez maiores os sinais da sua negação.

     Entre os objetivos que abril não atingiu estarão, por certo, os sinais que negam cada vez mais a existência de justiça social, de igualdade de direitos (práticos... porque de princípios não concretizados, de letra está toda a gente farta), de oportunidade e futuro à vista neste país. Restam algumas vozes críticas, algumas reações que procuram contrariar o rumo, que já deixou há muito de ser da maioria (porque conduzido por uma minoria desacreditada - a dos políticos). Nem já o discurso dos "afetos" é encarado senão na lógica do necessário, para se preservar uma face já sem cara.
     Quando falar do 25 de abril já é história (porque me recuso a utilizar o termo "narrativa", tão gasto por quem já faz parte de uma história muito mal contada), quase apetece começar com o típico "Era uma vez...". Não o faço por, na desesperança, estar incluído o termo contrário e ainda poder haver a vontade (sem rima com realidade) de apagar o prefixo quando houver oportunidade para tal.
      Assim, proponho outro "incipit" para os versinhos inspirados nesse feriado que virá a ser celebrado, pelo muito que tem de passado; pelo pouco que tem de presente; pelo nada que o futuro poderá evitar.


      Desculpem, os leitores, a forma perfeita da literatura (soneto) para a despretensiosa qualidade dos versos; porém, prefiro isto a cantar a grande música da "Grândola Vila Morena" com a qualidade de voz de um Zé Cabra (que apareceu e desapareceu do mundo da música, tal como deveria acontecer com muitos políticos desta terra - alguns dos quais já invadiram os nossos frágeis ouvidos com as piores das cantigas).

7 comentários:

  1. Bom dia, Vítor
    Destaco um dos teus versos: "um agastado povo resignou-se".

    Posso pôr o teu poema no meu blogue?

    Gostei muito, porque retrata o abril de agora, apesar de todas as esperanças que se desenharam com o 25 de Abril de 1974. Muitas concretizaram-se, felizmente; outras aguardam (ainda?) por melhores dias.

    Um abraço
    Dolores

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    1. Olá, Dolores.
      Creio que essa é a condição generalizada de quem assiste aos tempos governados por esta gente que mata abril aos poucos.
      Claro que podes colocar os versinhos no teu blogue. É uma honra. E ainda bem que o 25 de abril de 1974 existiu, para que eles possam ser lidos.
      Beijinho.

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  2. Obrigada, amigo. As mesmas palavras para ti.

    Um abraço

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  3. Este abril cada vez mais adiado que aqui lemos, porque, infelizmente, assim vivemos Portugal, fez-me lembrar estes versos:

    " Qu' é dos Pintores do meu país estranho
    Onde estão eles que não vêm pintar?"

    Paris, 1891-1892
    ANTÓNIO NOBRE, 1992: Só ["Lusitânia no Bairro Latino"], Edições ASA, p. 119

    E mais não digo, porque outros já disseram tudo (quase)...
    bijinho e bom regresso às aulas.
    IA

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    1. Amiga,

      Os pintores acharam o país tão estranho que acabaram também por emigrar.
      Até eu já tenho vontade de sair daqui para fora. E não sou pintor.
      Bom regresso também para ti.
      Beijinho.
      VO

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  4. Ai, ai, ai, censura prévia?!
    Não rasures o Zé Cabra, para mim, uma das maiores recensões críticas à música pimba, implodindo-a, so far. Fazendo uma interpretação extensiva, terias depois de apagar outras vozes, como a do Abrunhosa, e isso depois seria mais complicado, pelas cauções culturais que este a si mesmo se dá: «Não canto bem» (admite, mas não colocando um ponto final, antes uma vírgula, o que sociologicamente o faz subir na jerarquia celeste: «, como Lou Reed».

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    1. Nada rasuro, até porque dois passos atrás podem sempre resultar num à frente.
      Abraço.

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