Seja forma de tratamento seja uma questão de altura, elevação ou superioridade, há que respeitar a base de palavra.
Tudo a propósito de uma questão que alguém quis ver exclusivamente como resultante da formação de palavras:
Q: Olá, Vítor. Li numa gramática que a palavra 'eminência' é derivada por sufixação. Não se trata de uma palavra base?
R: Se me deres conta de palavras formadas a partir de 'eminência', assumirei que se trata de uma base para formar palavras derivadas ou compostas. Não se tratando disso, tenderei a assumi-la como palavra introduzida na língua portuguesa no decurso da evolução latina da forma 'eminentia' (a partir de um étimo), e que não é constituinte morfológico para novos termos.
Assim sendo, numa perspetiva etimológica e recorrendo à história da língua, tomarei a origem do termo como vindo formado do latim, entrando diretamente na língua portuguesa por essa via e tendo sofrido processos de evolução fonética / fonológica no período do galaico-português. Não estão implicados, portanto, processos nem constituintes morfológicos. Trata-se, portanto, de um étimo ou termo etimológico. Qualquer formação, a ter existido, ocorreu no latim e não no Português.
Na possibilidade de alguma coisa ter acontecido na nossa língua, terá sido o facto de a forma latina 'eminentia' ter sofrido mudanças ao longo do tempo por via popular e, no galaico-português, no quadro de um sistema consonântico medieval (mais complexo do que o atual) e na consequência de fenómenos como o da palatalização, ter convivido com realizações fonético-fonológicas novas relativamente ao latim vulgar (e que hoje podem ser equacionadas, por um lado, numa evolução marcada por simplificação sonora, mas, por outro, por maior complexidade na representação gráfica). O subsistema dos sons sibilantes e dos chiantes apontava, no período medieval, para realizações surdas que, correspondentemente, teriam também as sonoras, conforme se pode verificar na sistematização dada (focada nas sibilantes):
Subsistema das sibilantes (quatro sons distintos) no galaico-português
Ora, a grafia 'ti' (seja de 'palatium' seja de 'eminentia') associar-se-ia a uma evolução que corresponderia a uma realização sonora do tipo [tsi], a qual viria a perder o elemento oclusivo inicial (daí a evolução oral de [tsja] para [sja]).
Mais uma exemplificação de como a plataforma da morfologia com a etimologia e a história da língua permite evitar generalizações de algumas gramáticas escolares.
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