sábado, 6 de novembro de 2010

Canto poético (para o optimismo): No teu poema

      Reencontro com um poema, uma voz e uma melodia feitos para seduzir.

     Pouco há para dizer quando o que é conhecido, de repente, faz diferença.
    Embalado pela melodia, dando atenção às palavras e apreciando a interpretação, a sedução acontece. Desvela-se a beleza do que sempre esteve ao pé e na memória, na composição e na letra de José Luís Tinoco.


      NO TEU POEMA 

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida

No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.

No teu poema
Existe um canto, chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano.

Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra
E um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas.

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.


    Interpretações como as de Carlos do Carmo, Simone de Oliveira, Dulce Pontes ou Mafalda Arnauth são a prova de como há palavras que, em diferentes vozes, não perdem qualquer beleza ou nota de optimismo nos versos (também feitos dos seus reversos).

     Em tempos críticos, o canto poético convoca alguma da magia que se perde... e a esperança de "um verso em branco à espera do futuro".   


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