sexta-feira, 19 de novembro de 2010

T3+1 (ou a procura de abrigo em noite chuvosa)

     Chuva intensa, sacudir de casacos, sacos de plástico nos pés, necessidade de um tecto... À primeira vista, parece uma coisa, mas é outra... Coisas de ficção misturada com realidade.

    Tê três mais um é o título de um espectáculo levado à cena, no Teatro Carlos Alberto, com textos de Anton Tchékhov: O Canto do Cisne (I e II), mais Os Malefícios do Tabaco.

     Na interpretação de Nuno Cardoso, três monólogos desenvolvem-se aos olhos de uma plateia que se move, que ganha consciência da sua presença. Em O Canto do Cisne, tal acontece pela afirmação da sua ausência, pela desconstrução de um espaço ocupado pelo público, tomado como vazio, enquanto lugar de ficção (assim se convida o espectador a avaliar-se no seu papel (também artístico, de teatro). Tudo na voz de um actor ou do homem que teatraliza, se finge fora do jogo teatral. Com Os Malefícios do Tabaco, quem assiste é interpelado a participar numa situação cómica (de alguém que se apresenta como conferencista de um tema que não domina) transformada em tragicomédia humana (a de quem não está à altura do que é previsto, que tudo faz para [se] manter e sobreviver, até que cai no desejo de se libertar... na vontade [sem sucesso] de tudo abandonar).
   
     Se "O Poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente", o actor é um simulador; e ilude tão completamente que cria a aparente exposição ao que vive realmente: o abandono, a passagem do tempo, a velhice que se impõe.
Actor Nuno Cardoso
(fotografias de João Tuna)


    Para quem não fuma, e ainda que já tenha feito algumas conferências (falando do que, talvez, ainda pouco vá sabendo), resta-me mais O Canto do Cisne, que finda com "Tragam a carruagem! Tragam a carruagem!" - de preferência, a que conduza a alma à sua arte ("Enquanto houver arte, enquanto houver teatro, não há velhice!") ou o corpo e o espírito em viagem.

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