Funções sintácticas, a quanto obrigas (convenhamos umas mais do que outras).
Q: Num contexto de formação, foi-me indicado que o adjectivo 'feliz' funciona como predicativo do sujeito em 'Ela vive feliz'. Qual a razão ou razões para tal?
R: Tenho alguma dificuldade em tomar ‘feliz’, à partida e sem qualquer contextualização ou indicação textual prévia, como predicativo do sujeito na frase indicada.
Primeiro, o verbo ‘viver’ não é sintáctica nem tipicamente considerado um verbo de ligação ou copulativo (condição habitualmente requerida para a presença de um predicativo do sujeito). Depois, entre as valências e as estruturas argumentais típicas implicadas nas realizações de ‘viver’, este verbo assume-se como de realização intransitiva (Alguém vive – VIVER [x]) ou transitiva (Alguém viver em algum sítio / Alguém viver de algo / Alguém viver alguma coisa – VIVER [x, em y] ou VIVER [x, de y] ou, ainda, VIVER [x, y]). Na frase proposta, vejo a leitura de uma realização intransitiva, na qual ‘feliz’ se assume como um modificador de predicado (equiparável a ‘viver feliz / triste / contente / com entusiasmo / à larga / em crise', entre outras possibilidades).
A aproximação de ‘feliz’ a predicativo do sujeito só a poderia ver em contextos muito particulares, de derivação semântica (nada regulares nem sistemáticos), que tomassem ‘viver’ aspectualmente como um verbo de estado e não como um evento - uma hipótese a ganhar algum sentido numa realização de ‘viver’ enquanto sinónima dos verbos copulativos ‘ser/estar’ (e muito circunscrita a enunciados que obedecessem à configuração do verbo em enunciados genéricos, no presente do indicativo).
Questão comum a outras dúvidas já abordadas, o predicativo do sujeito não deixa de estar no top. Ficaremos por aqui? Como diria o cantor, "venham mais cinco..." (mas de preferência com outras funções).
Sem comentários:
Enviar um comentário