Por músicas que, na nossa língua, marcaram e se fizeram pela diferença.
Lembro-me que, pelos nove anos, houve uma canção que me chamou a atenção, ainda com os acordes de um hino à liberdade e à força das palavras e da(s) vontade(s).
MADRUGADA
Dos que morreram sem saber porquê
Dos que teimaram em silêncio e frio
Da força nascida no medo
E a raiva à solta manhã cedo
Fazem-se as margens do meu rio.
Das cicatrizes do meu chão antigo
E da memória do meu sangue em fogo
Na escuridão a abrir em cor
Do braço dado e a arma flor
Fazem-se as margens do meu povo
Canta-se a gente que a si mesma se descobre
E acorda vozes, arraiais
Canta-se a terra que a si mesma se devolve
Que o canto assim nunca é demais
Em cada veia o sangue espera a vez
Em cada fala se persegue o dia
E assim se aprendem as marés
Assim se cresce e ganha pé
Rompe a canção que não havia
Acordem luzes nos umbrais que a tarde cega
Acordem vozes, arraiais
Cantem despertos na manhã que a noite entrega
Que o canto assim nunca é demais
Cantem marés por essas praias de sargaços
Acordem vozes, arraiais
Corram descalços rente ao cais, abram abraços
Que o canto assim nunca é demais
O canto assim nunca é demais
A letra e a música de José Luís Tinoco tornaram-se um incitamento à mudança, à madrugada que 1975 ainda representava e trazia consigo a luz, a felicidade, o canto (mesmo que conservados por um húmus feito de resistência, luta, medo que se quis superado).
Ao fim de um dia de cansaço(s) e de um desgaste que vai minando tudo e todos, desejo (o tempo de) uma destas madrugadas.
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