sábado, 19 de fevereiro de 2011

Da arte e dos artistas para haver sempre cor...

       Porque há contextos de formação nos quais se vão colocando dúvidas pertinentes...

      Felizmente, há momentos em que a procura de formação vai correspondendo a necessidades que não são formatadas senão pela vontade de saber mais.

    Q: Gostava que me explicasse um pouco do que entende por função sintáctica interna e, nomeadamente, me esclarecesse por que motivo em 'artista plástico' estamos perante o complemento de nome com o adjectivo 'plástico'.

     R:  Uma função sintáctica interna corresponde, em termos de hierarquia e dependência, a um encaixe de uma função no interior de uma outra superordenada. Por exemplo, um grupo nominal pode apresentar uma expansão (que dele depende), ora determinando-o ora especificando-o. Tal expansão assumirá uma função interna relativamente à que é exercida pelo grupo nominal e/ou pelo seu núcleo (nome) em questão.
    Considere-se o caso de grupo nominal (i), entretanto expandido por quantificação e/ou determinação (ii), bem como por especificação / restrição (iii), acabando por se constituit como segmento sintáctico de uma frase complexa (iv):

(i) Os jovens
(ii) Todos os nossos jovens
(iii) Todos os nossos jovens, que revelam uma atitude trabalhadora,...
(iv) Todos os nossos jovens, que revelam uma atitude trabalhadora, aspiram a uma proposta de emprego.

     O grupo em questão na sua configuração expandida (iv) desempenha a função sintáctica de [sujeito] (v), tendo este último, no seu interior, uma outra função: a de <modificador não restritivo> (vi).

(v) [Todos os nossos jovens, que revelam uma atitude trabalhadora,] aspiram a uma pro-
      posta de emprego.
(vi) [Todos os nossos jovens <, que revelam uma atitude trabalhadora,>] aspiram a uma 
      proposta de emprego.

      Uma outra função interna pode ser detectada no grupo preposicional 'a uma proposta de emprego', que funciona como complemento oblíquo do verbo 'aspirar' - em (vi). Este é acompanhado por uma preposição ('a') mais um grupo nominal ('uma proposta de emprego') cujo núcleo é 'proposta'. Por este último ser um nome derivado de verbo transitivo (propor > proposta), segue-se-lhe um complemento de nome ('de emprego') - uma função sintáctica interna (dependente) do nome configurado no [complemento oblíquo]. À semelhança do verbo 'propor', que seleciona complementos (alguém propõe alguma coisa), também o nome dele derivado faz a mesma seleção:

(vii) Todos os nossos jovens, que revelam uma atitude trabalhadora, aspiram [a uma proposta de emprego].

    Tive já a oportunidade de referir uma tipologia com os nomes que seleccionam complementos de nome, e 'proposta' cabe nela (tratando-se de um nome deverbal, isto é, formado a partir de verbo transitivo eventivo).
     O caso de 'artista plástico' (sinónimo de 'artista de pintura') cabe na situação dos nomes derivados de outros (artista < arte; porteiro < porta), estando ligados a profissões. A expansão destes nomes derivados (não os derivantes) com a sequência 'de+ N' ou adjectivo equivalente faz-se na posição de complemento (cf. Gramática da Língua Portuguesa, coordenada por Mira Mateus, no capítulo "Categorias sintácticas" da autoria de Ana Maria Brito - Lisboa, Editorial Caminho, página 331). Daí a consideração deste caso numa sistematização que pode encontrar no manual Com Textos - 10º ano (Asa Editores), encontrando-se sublinhados os complementos de nome devidos:


    ... vale a pena partilhar mais umas reflexões acerca da língua e do modo como ela se encontra disposta nas suas funções sintácticas.

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