Refiro-me ao estudo da professora Sharon Feiman-Nemser (Massachusetts), desenvolvido ao longo dos anos 80 e 90 e com várias publicações nestas duas décadas no âmbito da formação docente.
Na linha dos "Teachers as Learners" (Professores como aprendentes / formandos), de 2012, a estudiosa já em 1983(1) havia reconhecido a existência de três fases no percurso desenvolvimental docente, caracterizadoras dos ciclos destes profissionais:
- a fase de sobrevivência: marcada por expectativas, pelos primeiros contactos com alunos, com pares e com estruturas organizativas das escolas; centrada em questões associadas à gestão interacional e ao controlo, bem como às competências interpessoais (no que possam ter de eficácia para a regulação do espaço aula);
- a fase situacional: encarada por um domínio da situação de ensino e por sinais de confiança assentes na rotinização de momentos de controlo da interação; focalizada em questões de ensino e nas pressões que estas refletem por pressões de tempo; preocupada com as realidades específicas que comprometam o trabalho na sala de aula (por exemplo, o excesso de alunos, a adequação de materiais, o repertório de experiências e de práticas capazes de promover aprendizagens);
- a fase de mestria e de resultados: caracterizada pelo domínio dos pressupostos de ensino, de comunicação e da gestão interpessoal / interacional; assente na questionação sistemática das necessidades sociais e emocionais dos alunos; focada em atitudes de ajustamento e adaptação necessárias à eficácia das práticas de ensino-aprendizagem; orientada para questões de maior justiça social e de reconhecimento das oportunidades de integração na escola).
Independentemente da representação que cada um faça da fase em que dominantemente se encontra, a verdade é que o percurso docente se faz de todas elas e em diferentes momentos, em recuos e avanços que sublinham a recursividade dessas fases ou estádios. Virginia Richardson e Peggy Placier assim o assumem, em "Teacher Change" (2001), sublinhando como qualquer alteração ao percurso construído ou mesmo a perspetivação contingencial e evolutiva da docência acarretam indicadores típicos da fase de sobrevivência ou da situacional, mesmo que se diga que um profissional se encontre num típico estádio de mestria.
(1) Feiman-Nemser, S. (1983: 150-70) - "Learning to teach" in L. Shulman & G. Sykes (eds.) - Handbook of teaching and policy, New York: Longman
(2) Handbook of research on teaching, Washington, DC: American Educational Research Association
É destes tempos o reconhecimento desse estudo, destacando um dado menos estável: é cíclico e recursivo tal faseamento, ao longo de toda a vida docente. Somos sísifos, por mais astutos que nos vejam, empurrando, para um lugar cimeiro, a pedra que teima em rolar para baixo.
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