Depois de Meia-noite em Paris, Woody Allen volta, passado um ano, com novo filme sobre outra grande cidade - aquela que, por anagrama, pode ter a ver com amor, mas se faz de outra coisa mais.
Desta feita, a Cidade Eterna é o palco para um conjunto de quatro histórias aparentemente soltas, mas feitas do ingrediente da fama, da celebridade, da popularidade - a que é perseguida; a que é renegada; a que é conquistada; a que envolve o comum mortal sem que este tenha feito conscientemente algo para isso e da qual acaba por ter saudade, assim que a perde; a que se traduz em momentos de glória, de ovação e à qual se sabe pôr fim.
Um aspirante a arquiteto cruza-se com um experiente e famoso congénere que, a pretexto de uma visita à casa onde nasceu, se torna numa espécie de voz da consciência para o jovem. Um casal conhece-se na cidade e permite que um diretor musical reformado revele um novo talento no canto lírico (mesmo que, para tal, seja necessário fazer-se acompanhar do duche onde canta primorosamente). Um outro vê a sua vida completamente alterada, quando um empregado de escritório é transformado numa celebridade e até a malha das meias da esposa é encarada como sinal de elegância na passagem pela passadeira vermelha. Um outro ainda, ao celebrar a sua lua de mel, envolve-se num conjunto de insólitos que o aproxima de fantasias, vivências intensas, muito para além dos horizontes humildes, modestos e pacatos que o trazem para Roma.
Com participações do próprio Woody Allen, de Penélope Cruz, Alec Baldwin, Roberto Benigni, entre outros atores mais ou menos familiares, o filme peca pela falta de qualidade na imagem; de uma ambiência e de uma cor local que não têm comparação com a sedução e a convicção cultural com que foi abordada a capital francesa, ainda que houvesse mais do que motivos para mostrar a imponência desta outra capital imponente - a do império romano. Resta uma história com momentos, pormenores, vivências retratadas capazes de justificar a classificação de comédia.
Entre o 'Bolo de Noiva', a Piazza del Campidoglio, o Coliseu, a Fontana di Trevi, a Fontana di Fiumi, a basílica de Santa Maria Maior, a panorâmica aérea da cidade, fica a música, episódios de vida comum tão ironicamente retratados que se tomam por exemplos típicos para uma teoria da celebridade.
Este "Para Roma, com Amor" é prova de que um bom argumento "segura" a qualidade cinematográfica dum filme, mesmo quando a imagem peca! E como peca...
ResponderEliminarGil Vicente apreciaria esta espécie de "ridendo castigat mores"(numa ironia subtil), que propõe uma reflexão a vários níveis, inclusive os interpessoal (veja-se, por exemplo, a relação do jovem casal em lua de mel, relação essa que não deixa de se enriquecer, a solo, saindo mesmo mais fortalecida, com as vivências insólitas de cada um dos noivos)e intrapessoal (o estudante de arquitetura é "obrigado" a rever alguns dos seus - supostos - inabaláveis princípios e sentimentos).
Enfim, o nosso quotidiano está presente e facilmente nos identificamos com as personagens que desfilam nesta Roma "amarelada"!
Beijinho
IA
De facto, senti-a muito amarelada. Não é a imagem que tenho para a cidade que vive das cores imperiais, monumentais (beatíficas até) que nos dominam.
EliminarDeve ser a visão americana do espaço.
Obrigado.
Bj