segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Os complementos (que até o são) e os circunstanciais (que podem não o ser tanto)

      Ainda a questão das terminologias gramaticais, para lá da distinção entre função sintática e constituintes sintagmáticos.

     Q: Um aluno veio ter comigo com algumas dúvidas. No caderno estava escrita a frase: "Os alunos foram a Sintra com os professores." "A Sintra" estava marcado como Complemento Circunstancial de Lugar. No exame nacional qual é a terminologia que os alunos têm de saber? 
  Outra pergunta: é um complemento circunstancial ou poderemos dizer que é um complemento preposicional pedido pelo verbo transitivo indirecto "ir"?

    R: Segundo as orientações dos últimos anos, bem como nas dos testes intermédios do presente ano letivo, ambas as terminologias (a da gramática tradicional e a do Dicionário Terminológico) são admissíveis, naturalmente em função do que têm sido práticas docentes reconhecidas pelos alunos, algumas das quais ainda fiéis ao que certos materiais apresentam (nomeadamente manuais) ou ao que algumas rotinas docentes têm discutivelmente imposto.
    Certo é que, com a frase em análise, surge um dos casos mais críticos na diferença entre a abordagem proposta pela gramática tradicional e a dos contributos científicos (linguísticos) mais recentes.
     Entende a gramática tradicional que "a Sintra" é um complemento circunstancial de lugar, ainda que, com isso, esteja a colocar-se sob a mesma etiqueta sintática realizações bem diferenciadas: as selecionadas pelos verbos-núcleo do predicado (como a do caso em análise); as que não são requeridas e podem ser retiradas, mantendo-se a frase correta. Se às primeiras não há problema nenhum em as classificar como complementos, o mesmo não sucede com as segundas (designadas pelo DT como modificadores). Similarmente, entende-se que 'em Espinho' seja complemento em 'Moro em Espinho', mas modificador em 'Caminho ao longo da praia, em Espinho' ou 'Em Espinho, compro peixe fresco às varinas'.
    Quanto à noção de circunstância espacial, a questão é mais de ordem semântica (e do papel temático associado) do que sintática, não devendo ser entendido como algo facultativo ou acessório da frase (tal como genera-lizadamente é apresentado pela gramática tradicional).
      Por fim, registo que o complemento da frase indicada é, sintaticamente, de natureza oblíqua. Dizer que ele é preposicional é uma questão que se coloca em termos de constituição sintagmática. De facto, o complemento oblíquo apontado é constituído por um grupo preposicional (formado por preposição mais nome).
(ou de como, no alinhamento dos verbos, há relações oblíquas na gramática das frases)

    Acima de tudo, faça-se a clara distinção, junto dos alunos, entre níveis de análise distintos (grupos de palavras / funções sintáticas), além de se provar, com exemplos claros, a distinção do que é complemento face ao que é um modificador.

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