domingo, 28 de outubro de 2012

Refundemos...

    A propósito das palavras do primeiro-ministro, na televisão hoje só se fala em 'refundação'.

    "Importa-se de explicar o que significa 'refundação'?"
     Uma hipótese.
   Proveniente de 'refundar (ao qual se processa a sufixação nominal '-ção'), foi consultado o dicionário para se ficar a saber que o verbo significa 'afundar', 'tornar mais fundo'. Não gostei! Tão mau está o país que a imagem se repete, desde um apontamento já com mais de um ano:


     Para quê afundar mais ('re'fundar)?
     Outra hipótese.
   Nova fundação. Fazê-la de novo. A fundação nacional faz parte da História. A refundação é tema presente. Voltar ao passado não é impossível nem impensável (seja pelo contexto associado à perda da independência nacional seja pela situação de crise que, na memória recente, lembra tempos em que se tirava o pão a quem trabalhava). Os tempos são outros, é certo; mas também é um facto que os que esquecem a História estão condenados a poderem vê-la repetida, com a agravante de tomarem como novas as já velhinhas causas de tanto problema e de tanto desalento (que podiam ter sido evitados).
  Pergunto-me por que não foram selecionados termos como 'reformulação', 'revisão', 'resolução', 'reajustamento', 'readaptação'. É que, pelo menos, estes eram vocábulos com algum sentido positivo; mas isso seria pedir de mais, por certo, às forças políticas deste país, sem coragem de tocar nos que nos deixaram chegar a este ponto; nos que, não estando já no exercício de funções governativas e/ou parlamentares, permanecem com o usufruto de benesses impensáveis (ao tempo e neste tempo); nos que se mantêm como figuras simbólicas de instituições / estruturas que, elas mesmas, já não fazem sentido (se é que alguma vez o fizeram) e aí permanecem por vezes tão próximas de qualquer cidadão ou profissional.
     E continuamos a pagar (por) tudo isto!

    Como não sou o primeiro-ministro, fica por dar a explicação - isto porque, nas palavras de outro governante da nossa praça, àquele se deve a autoria no uso do termo e deu jeito que assim fosse -, ainda que se anteveja a perda de mais sentido nas palavras e nos princípios da Constituição.

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