No dia em que saiu a público o Nobel da Paz.
O galardão coube à União Europeia (UE). Mais cedo ou mais tarde tinha de ser, diria eu, depois de ele já ter sido atribuído a Barack Obama, há três anos. A vantagem deste último, contudo, e na altura, foi sempre a da nota de esperança, fosse nas atitudes reveladas no campo político fosse no jogo de forças internacional que a figura democrata trazia aos olhos do mundo (depois do desastre republicano dos anos precedentes).
Hoje, premiar a União Europeia não creio que signifique a mesma visão de esperança.
Quando na Europa em crise se veem crescentes intentos independentistas em vários pontos geográficos (na Escócia, na Catalunha, na Galiza, na Flandres); quando a própria UE não consegue dar resposta solidária a países em crise assumida (Portugal, Irlanda, Grécia, Chipre; Malta) ou na iminência de nela entrar (Espanha, França, Itália); quando os desníveis sociais, económicos e financeiros se agudizam; quando as identidades nacionais se esfumam, é questão para perguntar que Nobel da Paz é este. Politização de um prémio criado em favor do bem humano? Financiamento de uma instituição (ainda) sem resposta prática para os problemas da Europa? Exemplo para um passado (aquele em que a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço foi criada com os princípios de integração, intercâmbio e controlo partilhado face aos perigos e às tensões vividos) que se quer relembrado, para se evitar maiores conflitos, guerras ou a ascensão de novos ditadores? Ter que ser agora, à falta de melhor?
Talvez nenhuma destas razões tenha sido considerada ou talvez o tenham sido todas, com mais um motivo: o da chamada de atenção para a vida (nos princípios idealizada) quando o que se construiu, ao longo de quase um século, parece estar moribundo.
No discurso de anúncio do Nobel, Portugal é exemplo: o de um país, entre outros, que integrou a CEE (Comunidade Económica Europeia, como se dizia então), depois de ter saído de um regime de ditadura que o atrofiou por longas décadas. Terá aqui a UE o exemplo do que interessa não seguir, quando outras formas de ditadura mais globais se refletem nas medidas governamentais que depauperam quem trabalha e que continuam a deixar de fora quem nos trouxe até à condição em que nos encontramos.
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