Na primeira sessão de "Ensino-aprendizagem da oralidade: princípios, campos de trabalho, estratégias e práticas avaliativas", regressou-se às origens.
Iniciei hoje mais um programa de formação para o Agrupamento de Escolas de Gondomar nº 1, desta feita sobre o ensino-aprendizagem da oralidade. Vinte horas para um grupo de cerca de também vinte formandos, interessados em reflectir sobre o âmbito do trabalho, as orientações pedagógico-didáticas a ele associadas, mais as práticas avaliativas.
Para abrir a sessão de trabalhos, e focando o nível da compreensão oral, propus um exercício que consistiu na escuta ativa de uma brevíssima história. A pré-tarefa era clara: registar uma lista de palavras que, no ritmo da escuta, era (no indicativo para ser mais factual) possível captar. Preparação feita, discurso escutado, os primeiros risos impuseram-se.
Insistência na escuta (há que apurar o sentido auditivo). À segunda, surgiram as tentativas de listagem (umas mais extensas do que é outras, para não falar daquelas que se ficaram pelo vazio). Na verificação da tarefa, surgiu a pergunta: significado? Como os destinatários são professores de línguas, obviamente os sons ouvidos foram associados a palavras do inglês, do alemão, do neerlandês, do latim; mas houve quem dissesse que era uma algaraviada irreconhecível; quem tentasse reproduzir sons que não entendia. Alguém chegou a acusar uma colega de ter inventado uma língua; uma outra proposta foi a de se passar o registo do fim para o princípio; por fim, não deixou de aparecer a observação "Que é isto?" Resposta: "Há de ser alguma coisa".
As primeiras tentativas de reproduzir sons, quando se é bebé, não andará longe do que se passou nesta experiência, por mais que já sejam ativados (re)conhecimentos e aproximações que um público especializado domina por certo. Este último só não sabia que estava a ouvir a língua das origens: uma versão do proto-indo-europeu (PIE), um idioma que investigadores e linguistas têm vindo sucessivamente a reconstruir e a atualizar em termos de som.
A revista nova-iorquina Archaeology divulgou a contribuição mais recente do que seria a sonoridade deste idioma (extinto) falado há cerca de cinco mil anos:
A revista nova-iorquina Archaeology divulgou a contribuição mais recente do que seria a sonoridade deste idioma (extinto) falado há cerca de cinco mil anos:
Confrontados com a versão escrita em inglês e o título, chegou-se ao reconhecimento do latino 'equus' (cavalo), quando a língua escutada corresponde a um estádio bem anterior.
Assim reza a narrativa escutada, traduzida em inglês, segundo o que foi escrito pelo linguista alemão August Schleicher (1868):
Assim reza a narrativa escutada, traduzida em inglês, segundo o que foi escrito pelo linguista alemão August Schleicher (1868):
The Sheep and the Horses
A sheep that had no wool saw horses, one of them pulling a heavy wagon, one carrying a big load, and one carrying a man quickly. The sheep said to the horses: "My heart pains me, seeing a man driving horses." The horses said: "Listen, sheep, our hearts pain us when we see this: a man, the master, makes the wool of the sheep into a warm garment for himself. And the sheep has no wool." Having heard this, the sheep fled into the plain.
Falantes de línguas que descendem do PIE, todos experienciaram a dimensão material, fonética (percetiva e articulatória) de um continuum cujo significado não é (ainda completamente) partilhado.
Assim se iniciou o percurso na "oralidade" que nos une na diversidade linguística que nos carateriza como herdeiros de um passado (por mais remoto que seja).
Eu estava lá, posso comprovar o que dizes e fui também uma das pessoas que se interrogou, durante a audição do texto em proto-indo-europeu: mas o que é isto?!
ResponderEliminarSão muito interessantes estes fenómenos da história da(s) língua(s).
Vejo também esse trabalho de escuta ativa como uma forma de alertar para a preparação cuidada da tarefa de produção oral na sala de aula.
O trabalho de grupo de ontem, sobre atividades de oralidade realizadas na sala de aula, reiterou esta necessidade de marcar, claramente, os aspetos sobre os quais incide a tarefa que pretendemos ver realizada pelos alunos (com atenção à estrutura da frase, ao léxico, ao ritmo, etc.) e que, muitas vezes, constitui um momento de avaliação.
Possa todo o trabalho que vai sendo realizado, por muitos linguistas, formadores e professores, fazer com que os alunos organizem melhor o seu discurso, não se limitando, por exemplo, a dizer: "gosto porque é fixe".
Continuação de excelente trabalho.
DG
Obrigado, amiguinha.
EliminarA língua no seu estado original, tal como nós o fizemos antes de escrever e de andar.
Vou preparar mais umas atividades "orais" para a próxima semana.
Obrigado.
Beijinho.