É um dado: por mais que haja quem goste, a sintaxe não chega.
É por esta e outras razões bem mais complexas que vejo a pragmática enquanto área de análise integrada e integradora das condições de produção, receção e reprodução, numa perspetivação mais completa das possibilidades que língua promove na relação assumida com os falantes / utilizadores..
Sob pena de alguns sinais que nos chegam aos olhos resultarem estranhos (sintaticamente falando), há quadros de análise e de entendimento da língua bem mais enriquecedores, capazes de ultrapassar o que superficialmente se toma como erro e propiciadores de compromissos da língua com o seu utilizador (numa ativação de dados contextuais e cotextuais reequacionadores do que de mais estrutural e formalizador a língua tem).
O generativismo de Chomsky (na década de sessenta) demonstrou como a estrutura superficial de uma língua pode ser enganadora, apontando-se para uma dimensão semântica diferenciadora de segmentos estrutural e sintaticamente iguais: "John is easy to please" / "John is eager to please" é o exemplo inglês canónico para distinguir frases similares, mas com adjetivos de natureza menos agentivos ou ativos / mais agentivos ou ativos; "O jovem sofreu um choque" / "O jovem provocou um choque" é o contraste português evidente para frases sintaticamente equivalentes e verbos que selecionam sujeitos ora pacientes (sofreu) ora agentes (provocou).
Para lá da dimensão semântica, é o modelo de análise pragmático que explora outras mais possibilidades, menos lineares e/ou formalizadas das realizações linguísticas.
Por exemplo, o que se lê na grande maioria das caixas multibanco é uma dessas situações: a incorreção sintática ('caixa', no feminino, não concorda com 'automático', masculino) não invalida o reconhecimento pr(agm)ático de que se está perante uma caixa de pagamento (ou de crédito) automático. Seja pela ligação com pagamento seja pela articulação com crédito (ou mesmo, ainda, com multibanco), o adjetivo em questão e a sua configuração gráfica com 'caixa', ambos a verde, causam a estranheza de qualquer leitor; suscitam o compromisso do utilizador da língua, no sentido de este explorar possibilidades interpretativas e/ou combinatórias ajustadas ao contexto e ao saber enciclopédico que aquele detenha. Viabiliza-se, assim, alguma forma de regulação adequada e/ou aceitável.
Outra ocorrência é a do anúncio à esquerda: a discordância mantida entre 'peixaria' nome feminino) e 'aberto' (adjetivo masculino) não se impõe tanto num raciocínio capaz de recuperar, ativar o conhecimento de que a peixaria em causa é um estabelecimento comercial, o qual se encontra aberto de terça a domingo. Nesta linha a incorreção de concordância é transformada num mecanismo de recuperação de pressupostos, de implícitos, de pré-construídos que potenciam a regulação discursiva no que o anúncio dá a ler.
Por exemplo, o que se lê na grande maioria das caixas multibanco é uma dessas situações: a incorreção sintática ('caixa', no feminino, não concorda com 'automático', masculino) não invalida o reconhecimento pr(agm)ático de que se está perante uma caixa de pagamento (ou de crédito) automático. Seja pela ligação com pagamento seja pela articulação com crédito (ou mesmo, ainda, com multibanco), o adjetivo em questão e a sua configuração gráfica com 'caixa', ambos a verde, causam a estranheza de qualquer leitor; suscitam o compromisso do utilizador da língua, no sentido de este explorar possibilidades interpretativas e/ou combinatórias ajustadas ao contexto e ao saber enciclopédico que aquele detenha. Viabiliza-se, assim, alguma forma de regulação adequada e/ou aceitável.
Outra ocorrência é a do anúncio à esquerda: a discordância mantida entre 'peixaria' nome feminino) e 'aberto' (adjetivo masculino) não se impõe tanto num raciocínio capaz de recuperar, ativar o conhecimento de que a peixaria em causa é um estabelecimento comercial, o qual se encontra aberto de terça a domingo. Nesta linha a incorreção de concordância é transformada num mecanismo de recuperação de pressupostos, de implícitos, de pré-construídos que potenciam a regulação discursiva no que o anúncio dá a ler.
É por esta e outras razões bem mais complexas que vejo a pragmática enquanto área de análise integrada e integradora das condições de produção, receção e reprodução, numa perspetivação mais completa das possibilidades que língua promove na relação assumida com os falantes / utilizadores..
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