Antes que o projeto não passe apenas disso, orientemos o piloto para o que interessa.
A questão surge ao preparar o material a dar na aula, a partir de uma proposta de trabalho que parece levantar mais problemas do que preparar soluções.
Q: Segundo uma tabela que os alunos têm no livro, a palavra 'projeto-piloto' deveria ter como plural 'projetos-pilotos'. Mas, muito francamente, não me cheira... No entanto, a regra deveria ser essa! Podes esclarecer-me, p.f.?
R: A reação à proposta de plural avançada faz sentido, pois o exemplo é, entre vários outros, um dos casos críticos que apresenta alguma ambiguidade de tratamento tanto em gramáticas (relativamente antigas ou com reprodução de informação da gramática tradicional) como em manuais.
Tradicionalmente, as palavras compostas com 'Nome+Nome' ou 'Nome+Adjetivo' eram relacionadas com a construção do plural através da adição do sufixo (gramatical) 's' no final de ambos os termos. Todavia, os contributos linguísticos (morfológicos) mais recentes têm chamado a atenção para casos especiais de compostos designados como morfossintáticos subordinados - isto é, um composto cujo radical da esquerda é modificado por um outro colocado à direita. O processo de identificação destes compostos faz-se através da expressão 'X é um tipo de... [termo da esquerda]'. É o caso de projeto-piloto (que é um tipo de projeto); navio-escola (um tipo de navio); bomba-relógio (um tipo de bomba); peixe-espada (um tipo de peixe); escola-modelo (um tipo de escola). Nestes casos, é o termo subordinante ou nuclear da composição (o da esquerda) que admite o contraste de plural.
A marca de plural colocada em ambos os termos é mais sistemático nas palavras compostas morfossintáticas conseguidas por coordenação - isto é, aquelas que são traduzidas pela expressão 'tanto é X como é Y' (ex: surdo-mudo, ator-encenador, cirurgião-dentista, rádio-gravador).
O contraste de número, em termos da flexão dos nomes compostos, sempre levantou algumas questões práticas, pelo que as regularidades deverão ser sempre planificadas, para que não se levantem polémicas nem se reproduzam situações mal resolvidas pela gramática tradicional (a maior parte delas entendidas como exceção a uma regra que muitos forçam e nem sempre - nem com o uso - se atualiza).
Sem comentários:
Enviar um comentário