Mais um caso de leitor do outro lado do oceano, com um pedido.
Uma questão de configuração do sujeito... com preposição.
Q: Olá!
Sou professor de Português. Moro no Brasil. Lançarei uma gramática em maio. Nela, coloco que o sujeito pode vir preposicionado (não regido de preposição, o que é diferente, como sabe): "Entre cinco e dez alunos passaram na prova". Gostaria de saber que pensa sobre isso.
Grande abraço!
R: Os elementos constituintes de um sujeito podem ser de natureza muito diversa, por certo, mas não considero que um grupo preposicional possa ser uma realização típica dessa função.
Pode dizer-se que há realizações, algo particulares, que podem ir nesse sentido. O caso apontado poderá ser um deles, mas tratar-se-á sempre de um cenário algo marginal, se não for entendido como discutível.
Fazer corresponder a "Entre cinco e dez alunos" o pronome pessoal "eles" é admitir uma das propriedades do sujeito sintático - a permuta por um pronome pessoal tónico de caso nominativo; todavia, creio que não está aqui em questão a natureza nominal do sujeito (referência a alunos). A configuração desta função tem essa referência como nuclear, à qual se ajusta uma operação de determinação ou quantificação imprecisa. Ou seja, à entidade nominal de base acresce uma expressão sintática de quantificação (traduzida pelo correlato 'entre... e...').
Vai na mesma linha de raciocínio a frase 'Cerca de oito alunos passaram na prova': não é por se iniciar com 'cerca de' que a nuclearidade nominal 'oito alunos' fica comprometida; há, sim, uma expressão de quantificação projetada no grupo nominal.
São muito marginais as realizações do grupo preposicional na função central de sujeito - praticamente associadas à nominalização de expressões temporais / locativas / de modo - e não se pode dizer que sejam ocorrências padronizadas da língua:
i) Às oito horas é bom horário para o encontro.
(cf. a concordância: 'Às oito horas e às dezassete são bons horários para o encontro').
(cf. a concordância: 'Às oito horas e às dezassete são bons horários para o encontro').
ii) À janela é um local perigoso.
(cf. À janela e à varanda são locais perigosos).
iii) De pé é posição cansativa.
(cf. De pé e de cócoras são posições cansativas).
A possibilidade de ver um sujeito nos itálicos (pelo confronto de um princípio típico desta função: o da concordância com o núcleo verbal do predicado) não exclui perspetivas de análise da língua centradas em fatores que estão para além da sintaxe, muitos destes relacionados com aspetos de tematização discursiva, de orientação argumentativa, de inversão e de elipse sintática até.
Residem essencialmente aqui as minhas reservas quanto a uma leitura estritamente sintática dos enunciados, particularmente os que não são exemplo de regularidades gramaticais.
Obrigado!
ResponderEliminarGrande abraço!
Disponha.
EliminarAbraço.
Vítor,
ResponderEliminarQuestiono-me se, no caso das tuas últimas duas frases, não estamos perante uma estrutura que sofreu uma elisão (penso que tu já apontas nessa direção).
Questiono-me se o uso oral destes enunciados não "fez cair" formas verbais no infinitivo que integrariam a estrutura frásica como, por exemplo, em "(Estar) de pé é posição cansativa".
Não sei, sinceramente o que dizer destas realizações, que me parecem tão coloquiais e, por isso, tão “escorregadias” ! Eu evitá-las-ia nas minhas aulas, mesmo nos níveis de escolaridade mais elevados. Só se viesse a propósito e fosse apresentada por um aluno duma turma daquelas que, infelizmente, cada vez há menos!
Mas uma coisa é certa: a língua, a linguística e a gramaticazinha são muito bonitas! Ai, são, são!
beijinho
IA
Amiga,
EliminarSe fosse a ti, não me questionava tanto. Eu adianto isso mesmo na minha resposta.
É um facto que, em inglês, as gramáticas referenciais apontam para a possibilidade de um grupo preposicional poder assumir a função de sujeito nessas condições. Ignacio Bosque, na sua gramática do espanhol, admite essas construções especiais (com verbos copulativos).
Quem sou eu para contrariar estas referências?! Ninguém.
Mas lá que acho que são realizações marginais e que a pragmática traz outra luz à questão (que se quer ver apenas ao nível da sintaxe), ai isso acho... e muito.
Eu também evito estes casos, até porque não são por certo regulares nem sistemáticos.
Beijo.